O enxugamento de gastos do governo estadual, na
esteira da crise econômica que sacode o País, chegou ao bem mais valioso da
população: a saúde. Em algumas das maiores unidades hospitalares do Estado,
faltam medicamentos e até utensílios para procedimentos simples. Funcionários
com salários atrasados, cirurgias desmarcadas e falta de estrutura para
pacientes e acompanhantes completam o quadro desanimador da saúde pública em
Pernambuco. Na próxima terça-feira (18), está programada uma paralisação de
duas horas dos funcionários não-efetivos do Hospital da Restauração, no bairro
do Derby, área central da cidade, em protesto contra os três meses de salários
atrasados. Outras são esperadas em diversas unidades do Sistema Único de Saúde
para as próximas semanas.
No Hospital Getúlio Vargas, bairro do Cordeiro, na
Zona Oeste do Recife, são cerca de 40 cirurgias eletivas canceladas todos os
dias por falta de materiais como gaze e compressas. “Trabalho aqui há 40 anos e
confesso que nunca vi o hospital nessa situação”, conta um enfermeiro, que não
quer se identificar, referindo-se ao corte de recursos. “E os gestores ainda
aparecem por aqui para pedir economia. É inacreditável”.
A reclamação encontra coro nos acompanhantes dos
pacientes. “Estive aqui com minha mãe há seis anos, e o hospital era show de
bola. Hoje, está jogado às baratas”, conta um técnico em refrigeração que
também prefere o anonimato. Ele está há dois meses com a mãe internada para uma
cirurgia no joelho que nunca acontece. “Está programada para amanhã (hoje). Mas
já houve tantos cancelamentos que eu não me espantaria se acontecesse outro”.
Moradora de Garanhuns, E. K. A. acompanha a tia do
namorado, internada para uma cirurgia na perna após um atropelamento. “Falta
remédio contra dor, falta água para as pessoas fazerem a higiene. É um estado
de calamidade”, reclama.
Numa coisa os acompanhantes concordam: os médicos
fazem de tudo para minimizar o cenário sombrio. “São todos muito atenciosos e
alegam que fazem o que podem, mas o Estado é que não dá condições”, diz E.K.A.
No Hospital Otávio de Freitas, no bairro do Sancho,
também na Zona Oeste, o cenário não é diferente. Uma funcionária terceirizada
conta que já são três meses de atraso de salário e quatro no
tíquete-alimentação. “O pior é que ninguém dá notícia sobre quando vai sair, e
a direção ainda ameaça nos demitir se formos reclamar pelos nossos direitos”,
diz.
Os vigilantes do Otávio de Freitas também estão com
salários atrasados em três meses e não sabem a quem recorrer. “Recentemente,
fizemos uma cota para pagar a pensão alimentícia do filho de um colega nosso.
Ele chegou a ser preso porque não tinha o dinheiro para cumprir com o
compromisso. Mas como teria, se não recebe no trabalho?”, indaga.
A crise na saúde fez aumentar o número de reclamações
à Promotoria de Defesa da Saúde do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). De
empresas fornecedoras de medicamentos a terceirizadoras de serviços, muitas têm
procurado o órgão com a finalidade de receber valores devidos pelo Estado. “A
crise não interfere no nosso papel de cobrar a oferta de serviços do Estado ao
público”, explica a promotora Ivana Botelho. “Ainda não houve uma resposta
oficial do governo admitindo que falta dinheiro”, completa.
Em
nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirma que a falta de insumos nos
três hospitais foi motivada por um problema de logística na central de
distribuição. Por causa disso, algumas cirurgias eletivas foram desmarcadas,
para priorizar procedimentos de urgência. A SES assegura que a situação foi
contornada e que as unidades estão abastecidas com os materiais hospitalares.
As cirurgias eletivas agendadas estão sendo realizadas normalmente e os
procedimentos adiados estão sendo reagendados com prioridade.
Sobre
o pagamento dos profissionais que atuam como prestadores de serviços por pessoa
física, a SES informa que trabalha para regularizar a situação. Atualmente, o
pagamento do mês de maio está sendo processado. A secretaria ressalta que a
modalidade de prestação de serviço requer a apuração mais detalhada do trabalho
prestado, com auditoria nas informações para evitar inconformidades nos
pagamentos. Ainda de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, o repasse é
feito após 60 dias.
A
secretaria afirma que, diante do quadro de crise econômica instalado em todo o
País, vem tomando medidas administrativas para reduzir e otimizar o uso dos
recursos públicos em toda a rede estadual de saúde. No entanto, ressalta, todas
as medidas estão sendo tomadas em áreas que não afetem o atendimento à
população.
Fonte: Jornal do Commercio
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