terça-feira, 18 de junho de 2013

O direito de se indignar

Análises não faltam para explicar a invasão de manifestantes nas ruas das principais cidades do país. E as mais sensatas delas mostram que a onda de protestos tem tudo a ver com a insatisfação que tomou conta da população diante da falta de perspectivas no país.
É certo que, nos últimos anos, o Brasil viveu um dos mais espetaculares processos de distribuição de renda da história moderna. Mais de 40 milhões de pessoas saíram da condição de quase miséria e se incorporaram ao mercado de consumo. Necessidades básicas, como fazer três refeições ao dia, foram supridas.
A nova classe C pode comprar televisão, geladeira, máquina de lavar, carro e até a tão sonhada casa própria. A sensação de riqueza foi agigantada pelo dólar barato, pelos salários corrigidos muito além da inflação e pelo quase pleno emprego.
O problema é que essa sensação de bem-estar começou a se esgotar nos últimos dois anos. Ao mesmo tempo em que a atividade econômica mingou, a inflação passou a corroer o poder de compra de parte dessa população que pôde saborear todo o efeito benéfico da estabilidade de preços. Pior, o governo não ofereceu nada em termos de serviços públicos. Tudo continua ruim: transportes públicos, escolas, hospitais.
Junto com a decepção e a sensação da ameaça de perda de conquistas tão importantes, essa camada que agora se revolta viu a violência crescer e símbolos da corrupção se instalarem no comando de um dos Três Poderes do país, Renan Calheiros, no Senado, e Henrique Eduardo Alves, na Câmara.
Mais que isso, constatou-se que a presidente que havia assumido com a marca de ótima gerente, que tinha feito uma faxina em alguns ministérios, na verdade, estava metendo os pés pelas mãos. Não só deixou a inflação mostrar as garras, como permitiu que o suado dinheiro do trabalhador, arrecadado por meio de pesados impostos, escorresse pelos ralos e beneficiassem poucos grupos empresariais eleitos para serem campeões nacionais.
Em vez de uma gestão firme das contas públicas, o que se viu foram artimanhas contábeis para esconder os privilégios concedidos a poucos. Não é só. Ao optar pela contabilidade criativa, o governo deixou de lado reformas importantes, que permitiriam ao Brasil dar passos largos para a ampliação dos ganhos sociais.
Enfim, dois anos e meio depois de Dilma Rousseff tomar posse, o que se tem é só decepção. Mesmo que puxemos pela memória, não conseguimos encontrar nenhum legado importante que o atual governo tenha dado ao país.
Na verdade, há, sim, uma contribuição importante: a de ter despertado nos brasileiros o direito de se indignarem.

Fonte: Blog do Vicente

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