Em
um mês, R$ 1 mil geram mais R$ 600. No mínimo. E o melhor: você nem precisa
sair de casa para isso. É só responder a cinco perguntas propostas diariamente
por um site. E pode pesquisar na internet para responder, se quiser. E não se
preocupe, ninguém do portal vai checar se as respostas estão corretas. Parece
brincadeira, mas não é.
É
esse o negócio que uma empresa pernambucana de marketing multinível chamada
Priples propõe aos usuários. Com quantias a partir de R$ 100, o investidor
ganha o direito de ser remunerado em 2% ao dia durante um ano. A promessa
de ganhos chama tanta atenção que também atraiu os olhares da Polícia Civil do
estado, que abriu inquérito para investigar o caso. A Priples está sendo
investigada por crime contra a economia popular – mais conhecido como esquema
de pirâmide financeira. Já existem 11 queixas contra a empresa.
Segundo
o advogado Thiago Lapenda, do escritório Lima e Falcão, pode ser configurada
como pirâmide toda operação financeira em que a remuneração de clientes antigos
é feita com o dinheiro de novos clientes, e não com o rendimento de serviços ou
produtos vendidos. “Esse tipo de negócio não é sustentável, pois os lucros
distribuídos são maiores que a receita da empresa.”
O
delegado titular da Delegacia do Ipsep e autor do inquérito contra a Priples,
Carlos Ferraz, acredita que o caso se trate de uma pirâmide e só espera o
resultado da perícia contábil para comprovar oficialmente sua tese. “Como uma
empresa cuja razão social é de R$ 30 mil pode pagar dividendos milionários aos
seus clientes?” Ferraz conta que a Priples poderá ser indiciada por outros
crimes, como formação de quadrilha, sonegação fiscal e estelionato.
O
dono da empresa, Henrique Maciel Carmo de Lima, foi intimado para depor, mas
não compareceu. Quando for concluído, o caso será levado ao Ministério Público
de Pernambuco (MPPE). Até agora 11 pessoas prestaram queixa contra Priples, de
acordo com Carlos Ferraz. Foram registradas denúncias a respeito do não
pagamento dos rendimentos no dia previsto
Há
também queixas dos usuários por não conseguirem localizar a sede física da
Priples. Os dois endereços fornecidos no site são falsos. A sede apontada no
site é o empresarial Pontus Corporate Center, em Boa Viagem. A reportagem foi
ao local e apurou que não havia sala ocupada pela Priples. A outra, na
Estância, trata-se da ex-residência de Henrique Maciel. A reportagem não
conseguiu entrar em contato com Maciel. Desde a semana passada, a
reportagem do Diario solicitou uma entrevista pela seção “fale conosco”, sem
sucesso.
Nova
modalidade de marketing
A
Priples é mais uma empresa representante de um novo ramo que tem se
consolidado: o marketing multinível (MMN). Com pequenas variações, os negócios
desse segmento têm como principal política de remuneração a quantidade de
propagandas publicadas e o número de novos clientes indicados para o negócio.
Para o Procon-PE, essas empresas devem ser vistas com cautela.
“A
maior parte dessas empresas remuneram seus clientes com o dinheiro da adesão de
novos clientes. Mesmo que eles tenham outros produtos a oferecer, não são essas
vendas que suportam a quantidade de dinheiro que eles distribuem mensalmente.
Então provavelmente vai chegar um momento em que isso vai saturar”, afirma o
coordenador-geral do Procon-PE, José Rangel. Ele exemplifica com um estudo
feito pelo Procon sobre a Telexfree. “Foram encontrados indícios de pirâmide,
além de mais de uma dezena de irregularidades no contrato.”
A
despeito das críticas, há quem tem ganho dinheiro com MMN. Com um investimento
inicial de apenas R$ 600 em uma conta da Telexfree, o ex-bancário Pedro dos
Santos hoje acumula um patrimônio estimado em quase R$ 500 mil, segundo ele. Já
comprou uma caminhonete S10 e vários terrenos. E tudo partir da aquisição de
várias contas na Telexfree e em outras empresas de MMN, como a BBOM. “Sou
contador e sei que marketing multinível não é pirâmide.”
O
Ministério Público de Pernambuco e o Ministério da Justiça informaram que estão
investigando a Telexfree por suspeita de fraude financeira. Pelo mesmo motivo,
o MPPE também abriu uma ação contra a BBOM. A Polícia Federal disse que não se
pronunciava sobre investigações em curso. Desde a semana passada o Diario
entrou em contato por e-mail com a Telexfree e a BBOM. Não houve resposta.
Saiba mais
O
que prometem as empresas
Priples
Vende aos usuários o direito de anunciar em seu site
Vende aos usuários o direito de anunciar em seu site
Remuneração
1.
Comissão
A
Priples promete pagar uma comissão de acordo com o nível em que o novo cliente
está entrando. Pode ser baseada no valor que o novo cliente irá investir ou no
valor do investimento feito pelo usuário antigo, nos últimos 12 meses
(prevalece o menor).
2.
Participação
A
empresa promete pagar 2% por dia ao usuário que responder perguntas de
conhecimentos gerais.
O percentual é calculado sobre o total de
recargas nos últimos doze meses.
O percentual é calculado sobre o total de
recargas nos últimos doze meses.
TelexFree
Empresa
se anuncia como multinacional que tem como negócio a venda de pacotes de Voip
Remuneração
1.
Vendendo voips (voz sobre IP na internet)
2.
Publicando anúncios sobre a TelexFree diariamente. Esquecendo de fazer anúncio
em um dia, perde-se a semana toda.
3.
Formando rede multinível (conseguindo novos adeptos ao negócio).
Paga-se
taxa de adesão em todos os kits de anúncios da empresa.
BBOM
Negocia
o aluguel de rastreadores de veículos. São três tipos de planos para aquisição
de rastreadores, aluguel do aparelho ou indicação efetivada de cliente.
Fontes: Contrato das Empresas
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