Os jovens
brasileiros desconfiam dos políticos e estão cada vez mais desencantados com os
partidos. Isso não provoca, no entanto, o seu afastamento automático de
atividades politicamente engajadas. Ligado a organizações que se caracterizam
pelo uso de redes sociais e pela estrutura pouco hierarquizada, um número
significativo de jovens está se mobilizando em torno de um amplo leque de
questões políticas e sociais.
Temas que vão da
mobilidade urbana à organização de grupos de hip hop e cineclubes na periferia
das grandes cidades fazem parte do cotidiano desses moças e moças, de acordo
com três grandes pesquisas realizadas recentemente sobre juventude no Brasil.
Embora conduzidas por diferentes pesquisadores e com focos diversos, as três
apontaram na mesma direção.
A mais ampla delas,
apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), foi concluída no ano passado. Ouviu cerca de quatro mil jovens e a
análise de seus resultados ainda não foi completamente
esgotada. Denominada Juventude e a Experiência da Política no
Contemporâneo, essa pesquisa focalizou grupos organizados e fora das estruturas
políticas partidárias. O resultado surpreendeu os pesquisadores, sobretudo pela
sua variedade.
Foram localizados
desde estudantes fortemente articulados no Movimento Passe Livre na Região Sul
a grupos de hip hop no Nordeste. A lista também inclui jovens em sindicatos
rurais, coletivos em escolas públicas e privadas e rádios comunitárias, entre
outros casos. "Nos deparamos com muitos grupos em diferentes inserções, em
torno de algum objetivo comum, visando alguma transformação social", diz a
coordenadora da pesquisa, a psicóloga Lucia Rabello de Castro, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Uma das
características desses grupos que mais chamaram a atenção foi o desencanto com
as formas convencionais de fazer política. "Eles se queixam de estruturas
muito verticais e hierarquizadas, com pouco espaço para o que têm a
dizer", relata a coordenadora.
Periferia
Também em 2012,
quando ainda pareciam inimagináveis as marchas de protesto ocorridas neste ano,
a pesquisa Comunicação e Juventudes em Movimento, organizada pelo Instituto
Brasileira de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), apontou na mesma direção.
Mesmo com foco mais restrito, de estudos de caso, ela detectou a efervescência
de movimentos de jovens de periferia que recorrem cada vez mais a novas
tecnologias de comunicação para se organizar e agir.
A coordenadora da
pesquisa, socióloga Marina Ribeiro, observa que, embora a porcentagem de jovens
organizados ainda seja muito pequena, é significativo o fato de estarem se
estruturando cada vez mais fora dos partidos, sindicatos e movimentos sociais
já conhecidos. A estudiosa também assinala a existência de um alto grau de
insatisfação entre esses jovens. Ela é causada por razões que vão da
precariedade de serviços públicos à falta de acesso a bens de consumo.
"Foram essas insatisfações que levaram um milhão de pessoas às ruas",
diz.
A terceira
pesquisa, Quebrando Mitos: Juventude, Participação e Políticas, é a mais antiga
das três. Realizada em 2008, ela detectou insatisfação dos jovens com a
estrutura partidária onde menos se esperava, entre militantes de
partidos. Para a coordenadora do estudo, a socióloga Miriam Abramovay, o
resultado foi um anúncio: "Ao rever o que apuramos no levantamento, concluo
que tudo o que vimos agora na rua está sendo anunciado há algum tempo".
Fonte: Agência Estado
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